Conheça o Projeto Trilhar

Preparando Jovens de Acolhimento para a Vida Adulta

INSPIRAÇÃO

Muitos jovens que passam sua infância em abrigos enfrentam o desafio de se adaptar ao mundo exterior quando atingem a maioridade. Ao completarem 18 anos, são obrigados a deixar o acolhimento, muitas vezes sem a preparação necessária para enfrentar a vida adulta.

O Projeto Trilhar, uma iniciativa da Fundação FEAC em parceria com a Guardinha, surge como uma resposta a esse desafio, oferecendo suporte essencial para esses jovens durante a transição para a independência.

O Desafio da Transição

Vitória Pereira da Silva, 19 anos, é um exemplo claro das dificuldades enfrentadas por esses jovens. Após viver em um abrigo desde os 6 anos, Vitória teve que se adaptar rapidamente ao mundo exterior ao completar a maioridade. “O principal desafio é ter que enfrentar o mundo sabendo que é você por você mesmo, sem tia ou tio acompanhando”, compartilha Vitória.

O Projeto Trilhar foi criado para apoiar adolescentes entre 15 e 18 anos que vivem em serviços de acolhimento em Campinas. Desde 2018, o projeto oferece mentorias individuais para ajudar esses jovens a se prepararem para a vida adulta. Com um enfoque em moradia, trabalho, uso consciente do dinheiro e apropriação da cidade, o Trilhar visa dotar os participantes das habilidades necessárias para uma vida independente.

Resultados e Impacto

Em fevereiro de 2022, o projeto celebrou a conclusão do primeiro ciclo, com 17 jovens recebendo certificados após três anos de mentoria. Outros 17 jovens continuam no programa, beneficiando-se de orientações contínuas. Renato Franklin, líder do Programa Acolhimento Afetivo da FEAC, destaca o impacto do projeto: “Na saída do acolhimento, o jovem enfrenta o árduo desafio de enfrentar a autonomia financeira, o mercado de trabalho e a geração de renda, entre outras tarefas”.

A psicóloga Natália Ferrari Boldrini, técnica do Trilhar, observa que muitos jovens chegam ao projeto sem habilidades básicas de autonomia. “A maior parte da rede de apoio deles está entre os profissionais dos serviços. Quando a gente fala que, aos 18 anos, eles têm que sair do acolhimento, eles entendem a independência como se estivessem sozinhos no mundo”.

O Trilhar se destaca por seu enfoque individualizado. Os encontros quinzenais entre jovens e mentores ocorrem em locais públicos, como praças e Centros Educacionais Unificados (CEU), ajudando os participantes a desenvolverem autonomia na locomoção pela cidade. Os resultados são notáveis: 86% dos jovens têm autonomia para circular pela cidade e 75% fazem uso independente de espaços públicos de cultura, lazer e esporte.

Desafios e Superações

Os desafios enfrentados pelos jovens não se limitam à locomoção. Muitos têm dificuldades em encontrar moradia e se manter nela. “Quando chegam aos 18 anos, para onde vão? A nossa angústia é que Campinas não tem vagas suficientes nas repúblicas”, afirma Helena Aparecida de Oliveira, mentora do projeto. As repúblicas, serviços de acolhimento provisório para jovens, são limitadas, com apenas duas disponíveis em Campinas.

No entanto, o projeto também tem alcançado avanços significativos. Em relação ao mercado de trabalho, 85% dos jovens do Trilhar tiveram alguma experiência profissional, e 42,2% estão atualmente inseridos no mercado formal.

A maioria dos jovens começou com defasagem escolar, mas o Trilhar ajudou a superar essas barreiras por meio de organização de estudo e apoio contínuo.

A Perspectiva dos Mentores

Para os mentores, como Helena, o Trilhar representa uma experiência de aprendizado profundo. “A gente aprende sobre esse universo que até então só tinha ouvido falar pela TV, mas entrar em contato é muito diferente. Cada jovem é uma história”, reflete Helena, que já mentoreou dois jovens e continua com seu atual mentorado.

A contribuição dos mentores vai além do suporte técnico; eles oferecem uma presença afetiva crucial para esses jovens. A relação de confiança estabelecida durante o projeto tem sido fundamental para o progresso dos participantes.

Contexto e Necessidade

Desde 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê o acolhimento institucional como uma medida excepcional. No entanto, a reintegração familiar nem sempre é possível, e a adoção de adolescentes é menos comum. Em Campinas, cerca de 350 crianças e adolescentes estão em acolhimento, com aproximadamente 43% tendo entre 12 e 17 anos.

O Projeto Trilhar não apenas prepara esses jovens para a vida adulta, mas também destaca a necessidade de mais suporte e recursos para garantir uma transição bem-sucedida. Com iniciativas como o Trilhar, há esperança de que esses jovens possam encontrar um caminho para a autonomia e um futuro promissor.

O Projeto Trilhar é um exemplo inspirador de como a combinação de apoio individualizado e orientação prática pode fazer a diferença na vida de jovens que enfrentam o desafio de sair de serviços de acolhimento.

Através de mentorias, desenvolvimento de habilidades e suporte contínuo, o Trilhar está ajudando a transformar a transição para a vida adulta em uma jornada de aprendizado e crescimento para muitos jovens em Campinas.

Fonte: https://feac.org.br/projeto-auxilia-jovens-que-cresceram-em-abrigos-a-se-prepararem-para-maioridade/

 

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